Para
Yves Carvalho
Gabriel Carvalho
Aline Furtado
Augusto César
João Moreira
Daniel, o futuro rei.
ROSA DE PÓLVORA NEGRA
A máquina quente ainda
Perfura os olhos fechados.
O sangue rangendo dentes...
As cortinas são abertas:
Figurações postiças num
Espetáculo de horrores
Regados pelo caos urbano.
Máquinas fumantes
Embebidas por diesel e
Falácias partidárias
Da falsa-democracia.
Insígnias imorais condecorando
Cuzões fardados e seus cachimbos.
Peste envolta em brilho midiático.
Carnificinas transmitidas aos vivos,
Porém, sem cores...
Bandejas cintilando vísceras
Infantis, sonhos castrados.
Violência invés de praças,
Tráfego desmanchando vidas.
Pesadelo revivido pela rotina,
Ilusões metafísicas e ausência de si...
Cada dia que passa,
Esquenta mais e mais; o inferno é aqui...
Cada dia que passa, nos aniquilamos aos poucos!
Os dias passam e a temperatura vai subindo
Termômetros recusam,
Esquentam e derretem.
E o fim chegará...
- O nosso ou o do planeta?
E se houver futuro teremos
Açougues de humanidade...
Haverá futuro?
Ventos sulfúricos,
Desmandos e ranger de dentes.
O final chegando atrasado
Em cavalos de ausência,
Tormentos pragmáticos sem fim!
Pontes de esquecimento serão dinamitadas.
Destruídos serão os grilhões.
As correntes serão quebradas...
E ao longe ouviremos
Os trovões.
Mas agora;
Poluições generalizadas e
Amores desfeitos.
Camada sem ozônio,
Só nos servirá na lembrança do que foi um dia...
A mão humana deprava.
Mata, esmaga...
A mão humana corta o próprio galho que lhe oferece sustento.
A motosserra matando as serras,
O carro robusto atropelando velhinhas,
Aposentados e pensionistas enganados...
Estamos gestantes de morte!
Nossos umbigos agradecem,
Nosso egoísmo resplandece...
Haverá futuro?
Ruas ainda vegetam...
Em instantes serão as ruínas que imperarão!
E nenhuma nave espacial pousará aqui!
Apenas o tormento é semeado,
Apenas a fome será colhida!
Por anos matamos florestas,
Por séculos poluímos os rios!
O ar é rarefeito!
Estamos presenciando o fim.
Aprecie sem moderação!
Aproveite a nossa promoção
COMPRE um protetor solar
E um chapéu-de-palha
Bem baratinho!
Onde estão os deuses astronautas?
Onde estão nossos esforços para continuar a vida?
Por quais motivos não semeamos a vida,
Invés da morte, que é o espetáculo catastrófico
Provocado pela ganância humana?
Haverá futuro?
Fechem as cortinas, fechem!
Chega de espetáculo!
Há algo de podre que nos envolve...
Lixo urbano,
Miséria e deseducação!
Escolas caducas, perduram absurdas...
Distribuindo loucuras
Maltratando quereres!
Dias de câncer-de-pele...
E que mundo ainda temos?
Um mundo de vivos ou de mortos?
Que valores são enfiados sem carinho e sem cuspe em nosso orifício cerebral?
Que valores a televisão impõe?
Que ética nos enfia pelo cu?
E o litro de cachaça, A QUEM SUSTENTA?
E a chia do cigarro? A QUEM SUSTENTA?
E a latinha de refrigerante que para se decompor leva 600 anos?
A quem dizima?
E PARA ONDE VAI O DINHEIRO DO TRÁFICO DA MACONHA-NOSSA-DE-CADA-DIA?
Para onde vai a infância usurpada das nossas pequenas crianças-avião?
Onde o lucro da nossa querida cocaína é enfiado?Para onde?
Onde estaremos antes do fim?
Drogados?
Estaremos fora de si , estaremos dopados, chapados, bêbados?
E depois do fim?
O que faremos?
Continuaremos financiando o genocídio?
A máquina ainda perfura os olhos,
A mais-valia arrancada
Gera lucro
Gera fome
Gera morte.
E as sementes que não forem plantadas por nossas mãos
Não vingarão,
Nem frutos
Nem sombra!
Apenas eu sei o meu próprio querer!
E como diria
Pierre Joseph Proudhon:
“...E aquele que vir a falar em meu nome é um usurpador,
Aquele que diz representar-me é um tirano,
Aquele que diz governar-me é meu inimigo!”
E mesmo assim haverá futuro?
Só haverá futuro se nós, homens e mulheres,
Tivermos desejo em construí-lo.
Só haverá futuro se as relações humanas forem baseadas em outras formas de vivência e coletividade.
Só haverá futuro quando não mais houver competição.
Realmente queremos um futuro?
Ou este mundinho de merda está bom para você?
Está contente com toda a fome que visita a barriga vazia de milhares no mundo?
Está satisfeito com esta cambada de vagabundos que você pôs no parlamento?
Está satisfeito com uma das passagens mais caras do país?
Está tranquilo em saber que muitos morrem em guerras imperialistas comandadas pelas Potências capitalistas?
Continua sereno em saber que todo dia despejamos toneladas de gases poluentes na atmosfera?
E mesmo assim haverá futuro...
Ou, ruínas futuras.
E os palhaços que comem cabelos continuarão a fazer palhaçadas!
O mais novo "reality show" continua comandando a baboseira global.
A Educação depravadora ainda respira.
O patrão continua cheirando cocaína e roubando seus funcionários!
E as igrejas?
Bem, as igrejas... Deixa pra lá!
Seus fiéis apenas oram...
Fazem horas e o couro come de esmola!
Mas como diria Freud: “As religiões são neuroses coletivas e, as neuroses são religiões individuais.”
E as músicas ridículas continuam tocando nas rádios!
Ridicularizando a mulher, tornando-a apenas objeto sexual, eu disse APENAS!
E ela, por inocência, Burrice ou querer, continua a pedir mais e mais,
Perpetuando relações arcaicas, beirando o absurdo em que o macho domina a fêmea, oprimindo-a, abusando-a, reprimindo-a... E assim, O HERÓI FÁLICO DO CAPITAL, o Macho, é eternizado.
...
Mulheres
Homens
Pessoas vivas e mortas
Deem um fim a esta situação!
Destituam os déspotas
Que tiranizam o viver!
Desmascarem aqueles que entorpecem a vida!
Organizem-se em grupos e roubem o azul do céu!
Façam das mentiras aveludadas pano de chão!
Tomem as rédeas de suas próprias vidas!
Agitem
Organizem
Lutem!
Desmantelem a máquina que deprava a vida!
Destruam as engrenagens que vociferam horrores desumanos!
Quebrem as correntes e destruam os navios negreiros que ainda respiram racismos!
Desvirtuem aqueles que ousarem falar em seu nome!
Fogo às Máquinas!
Fogo ao Parlamento!
Fogo à falsa democracia!
Fogo à passividade!
Fogo à civilização!
Fogo à hierarquia!
Fogo ao Estado!
Pelo azul do céu!
Pelo multiorgasmo!
Pelo impossível!
Pelo indizível!
Pela flora!
Pela fauna!
Pela vida e por toda a vida!
Pelo sonho!
Pela liberdade!
Pela contravenção!
Pela terra e pela água!
Pela vida!
Por nós!
FIM?
ROSA DE PÓLVORA NEGRA
Rafael Carvalho
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Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMeu poeta,
ResponderExcluirQue vontade de chamar-te para fazermos um grupo de poetas... Assim como existe um grupo de músicos. Seria... Loucura é... Por isso as vezes prefiro os loucos. Mas...
Falou "muito" e disse tudo. Pelo menos tudo o que eu gostaria de dizer num poema.