segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A verdade sobre deus



Marquês de Sade



Qual é essa quimera impotente e estéril
Essa divindade que aos imbecis apregoam
Uma cambada odiosa de padres impostores?
Querem tornar-me num dos seus sectários?
Ó! nunca, juro-o e cumprirei a minha palavra,
Nunca esse bizarro e nojento ídolo,
Esse filho do delírio e do escárnio,
Impressionará minimamente o meu coração.
Contente e orgulhoso do meu epicurismo,
Pretendo expirar no seio do ateísmo.
E que o Deus infame com que pretendem
(assustar-me
Nunca eu o conceba senão para o blasfemar.
Sim, vã ilusão, a minha alma detesta-te,
E para que te convenças aqui o proclamo.
Gostaria que pudesses viver por um momento
Para gozar o prazer de melhor te insultar.
Qual é, com efeito, esse execrável fantasma,
Esse Deus cagão, esse ser pavoroso
Que não se deixa ver nem dá sinal de vida,
Que o insensato teme e de quem o sábio ri,
Que não fala aos sentidos e que ninguém pode
(compreender,
Cujo culto selvagem fez derramar entre nós,
Desde sempre, mais sangue que a guerra
Ou a fúria de Témis em mil anos?
Por mais que analise este deifico tratante,
Por mais que o estude, o meu olho filosófico
Não vê neste motivo das vossas religiões
Senão um conjunto impuro de contradições
Que não resiste a um exame sério,
Que podemos insultar, desafiar, ultrajar à vontade.
Fruto do temor, criado pela esperança,
Inconcebível para o nosso espírito,
Tornando-se consoante a mão que o brande
Objecto de terror, de alegria ou de vertigem,
Que o hábil impostor que o anuncia aos
(humanos
Faz reinar como quer sobre os nossos destinos,
Descrevendo-o ora como mau, ora como
(bonacheirão,
Ora massacrando-nos ora servindo-nos de pai,
Atribuindo-lhe sempre, segundo as suas paixões,
Os seus costumes, o seu carácter e as suas
(opiniões,
Quer a mão que perdoa, quer a que nos trespassa.
Ei-lo, esse Deus idiota com que nos engana
(o padre.
Mas com que direito pretende submeter-me
Ao seu erro aquele que a mentira escraviza?
Necessitarei acaso do Deus de que abjura
A minha razão para aceitar as leis da natureza?
Nela tudo se move, e o seu seio criador
Age continuamente sem a ajuda de um motor.
Que ganharia eu com essa segunda dificuldade?(2)
Demonstrará esse Deus a causa do Universo?
Se cria, foi criado e eis-me de novo incerto
Como antes de recorrer a ele.
Foge, foge para longe, impostura infernal;
Cede, desaparecendo, às leis da natureza:
Ela faz tudo por si própria, tu não passas do vazio
Onde a sua mão nos foi buscar quando nos criou.
Some-te pois, execrável quimera!
Foge para longe, abandona a terra,
Onde não encontrarás senão corações
(empedernidos
Pela algaraviada mentirosa dos teus míseros amigos!
Quanto a mim, confesso, o ódio que te tenho
É ao mesmo tempo tão certo, tão grande e tão forte
Que seria com prazer, Deus vil, e sem pressas,
Que me masturbaria sobre a tua divindade,
Ou enrabar-te-ia, se a tua frágil existência
Pudesse oferecer um cu à minha incontinência.
Depois arrancar-te-ia com força o coração
Para melhor te compenetrares do meu profundo
(horror.
Mas seria em vão que se procuraria atingir-te,
A tua essência escapa a quem a quer coagir.
Não podendo esmagar-te, pelo menos entre
(os mortais,
Gostaria de destruir os teus perigosos altares
E demonstrar àqueles que um Deus ainda cativa
Que esse aborto covarde que a sua fraqueza adora
Não pode pôr termo às paixões.
Ó sagrados movimentos, orgulhosas impressões,
Sede pra sempre objecto das nossas
(homenagens
As únicas dignas do culto dos verdadeiros sábios,
As únicas que sempre deleitaram os nossos
(corações
As únicas que a natureza proporciona à nossa
(felicidade
Cedamos à sua autoridade, e que a sua violência
Subjugando os nossos espíritos sem resistência
Faça dos nossos prazeres leis, impunemente:
O que a sua voz prescreve são os nossos desejos,
Seja qual for a desordem para que nos arraste,
Devemos ceder-lhes sem remorsos e sem
(dificuldade
E, sem consultar as nossas leis ou costumes,
Entregarmo-nos com ardor a todos os erros
Que pela sua mão a natureza sempre nos ditou.
Nunca respeitemos senão o seu divino murmúrio;
O que em todos os países as nossas leis vãs punem
Foi sempre o que melhor serviu os seu desígnios.
O que parece ao homem uma cruel injustiça,
Não passa do efeito da sua mão corrupta sobre nós,
E quando, por força do hábito, tememos vacilar
Só conseguimos acolhê-la ainda melhor.
Essas doces acções a que chamais crimes,
Esses excessos que os parvos julgam ilegítimos,
São apenas os desvios que lhe agradam,
Os vícios, as tendências que mais aprecia;
O que ela grava em nós é sempre sublime,
Aconselhando o horror, ela designa a vítima:
Golpeêmo-la sem temor e não receemos
Ter cometido uma perversidade, cedendo.
Examinemos o raio nas suas mãos sanguinárias;
Ele fulmina ao acaso, os filhos, os pais,
Os templos, os bordéis, os beatos, os bandidos,
Tudo serve à natureza: precisa de delitos.
Do mesmo modo a servimos ao cometer um crime:
Quanto mais o propagamos, mais ela o adora.
Usemos os direitos poderosos que exerce sobre nós
Entregando-nos sem fim aos gostos mais
(monstruosos:
Nenhum é proibido pelas suas leis homicidas,
E o incesto, a violação, o roubo, os parricídios,
Os prazeres de Sodoma, os jogos de Safo,
Tudo o que faz mal ao homem ou o mata
É, podeis crer, um meio de lhe agradar.
Destronando os deuses, roubemo-lhes o trovão.
E com esse raio faiscante destruamos tudo
O que nos desagrada neste mundo assustador.
Sobretudo não poupemos nada; que as suas
(próprias
Atrocidades sirvam de exemplo às nossas piores
(proezas
Não há nada sagrado: tudo neste universo
Se deve vergar perante os nossos fogosos caprichos.
Quanto mais multiplicarmos, diversificarmos
(a infâmia,
Mais a sentiremos fortalecida nas nossas almas,
Duplicando, encorajando as nossas cínicas
(experiências
Conduzindo-nos, dia a dia, passo a passo,
(à malvadez.
Após os melhores anos, se a sua voz volta
(a chamar-nos
Regressemos a ela fazendo pouco dos deuses,
O seu cadinho espera-nos para nos recompensar;
O que o seu poder nos tirou, a sua necessidade
(devolve-nos,
Nela tudo se reproduz, tudo se regenera:
Dos grandes como dos pequenos a puta é a mãe
E aos seus olhos somos todos queridos,
Monstros e malvados ou bons e virtuosos.

Contrato tácito das pessoas que dormem...


O mundo em que vivemos assenta num contrato tácito entre os conformistas amorfos e cujo conteúdo é o seguinte:


1) Aceito a competição como base do nosso sistema social e econômico, mesmo se tenho consciência que o seu funcionamento gera frustração e cólera por entre a esmagadora maioria dos perdedores.

2) Aceito ser humilhado ou explorado na condição de também eu humilhar e explorar quem quer que se encontre abaixo de mim na hierarquia social.

3) Aceito a exclusão social dos marginais, desadaptados e dos fracos em geral, uma vez que a integração social tem que ter limites.

4) Aceito remunerar os bancos a fim destes investirem o meu salário conforme as suas conveniências, mesmo sem receber qualquer dividendo pelos seus gigantescos lucros. Aceito igualmente que os bancos me exijam uma comissão elevada para me emprestarem dinheiro que não é outro senão o dos seus clientes.

5) Aceito que permanentemente sejam congeladas e sejam lançados foras toneladas de alimentos a fim que os preços não baixem, o que é preferível a dá-los às pessoas necessitadas e que permitiriam salvar algumas centenas de milhares de pessoas

mesmo impedir) qualquer substituição, mesmo se vier a descobrir um qualquer meio gratuito e ilimitado de produzir energia, o que seria uma grande perda e prejuízo elevado para o nosso sistema da fome, cada ano que passa.

6) Aceito que seja expressamente proibido pôr fim aos seus dias, mas que seja perfeitamente tolerável que se vá morrendo aos poucos ao inalar-se ou ingerir-se substâncias tóxicas autorizadas pelos Estados.

7) Aceito que se faça a guerra para fazer reinar a paz. Aceito que em nome da paz a primeira despesa pública dos Estados seja para o orçamento do exército. Aceito igualmente que os conflitos sejam criados artificialmente a fim de garantir o escoamento dos stocks de armas e de fazer girar a economia mundial.

8) Aceito a hegemonia do petróleo sobre a nossa economia, muito embora se trate de uma economia de elevado custo e geradora de poluição, pelo que estou de acordo em travar (e econômico.

9) Aceito que se condene a morte do próximo, salvo se o Estado decretar que se trata de um inimigo, caso esse em que devemos então encorajar a que seja morto.


10) Aceito que se divida a opinião pública criando partidos de direita e partidos de esquerda, que passarão o seu tempo a combater-se entre si, dando a impressão de fazer avançar o sistema. Aceito, além disso, todas as divisões possíveis e imagináveis, visto que elas me permitirão canalizar a minha cólera para os tais inimigos referenciados, e cujo retrato será agitado perante os meus olhos.

11) Aceito que o poder de moldar e formatar a opinião pública, outrora entregue às religiões esteja hoje nas mãos dos negociantes, não eleitos democraticamente e que são totalmente livres de controlar os Estados, já que estou plenamente convencido do bom uso que não deixarão de fazer daquele poder sobre a opinião pública.

12) Aceito a idéia que a felicidade se resume ao conforto, amor ao sexo, e à liberdade de satisfazer todos os desejos, pois é isso que a publicidade não se cansa de me transmitir. Quanto mais infeliz, mais eu hei-de consumir, e ao desempenhar com competência este meu papel, estou a contribuir para o bom funcionamento da nossa economia.

13) Aceito que o valor de uma pessoa seja medido em função da sua conta bancária, assim como a sua utilidade social esteja dependente da sua produtividade, e não tanto da suas qualidades, pelo que será excluído do sistema quem não se mostre suficientemente produtivo.

14) Aceito voluntariamente que sejam prodigamente pagos os jogadores de futebol e os atores e atrizes, e a um nível muito inferior os professores e médicos, profissionais encarregados da educação e da saúde das futuras gerações.

15) Aceito que sejam lançados para os lares, especialmente destinados para esse fim, as pessoas de idade, cuja experiência poderia ser útil, uma vez que sendo nós a civilização mais evoluída do planeta (e, sem dúvida, do universo) sabemos bem que a experiência não se partilha nem se transmite.

16) Aceito que todos os dias sejam apresentadas as notícias mais terríficas e mais negativas do mundo a fim que possa apreciar até que ponto é normal e possa dar-me por satisfeito a sorte que tenho em viver numa sociedade ocidental, tanto mais que incutir o medo nos nossos espíritos só pode ser benéfico para todos nós.

17) Aceito que os industriais, os militares e os políticos se reúnam regularmente para tomar decisões, sem nos consultar, sobre o futuro da vida e do planeta.

18) Aceito consumir carne bovina tratada com hormônios sem que eu esteja informado sobre o assunto. Aceito que a cultura dos transgênicos se expanda por todos os lugares do mundo, permitindo às transnacionais do setor agro-alimentar patentear as sementes, recolher dividendos e colocar sob o seu jugo toda a agricultura mundial.

19) Aceito que os grandes bancos internacionais emprestem dinheiro aos países desejosos de adquirir armamento, escolher aqueles que farão a guerra e os que a não farão. Estou plenamente consciente que mais vale financiar as duas partes beligerantes a fim de estar seguro que o conflito possa durar o mais tempo possível, de modo a ser possível pilhar os seus recursos caso não possam reembolsar os empréstimos recebidos.

20) Aceito que as empresas multinacionais se abstenham de aplicar os progressos sociais do ocidente nos países desfavorecidos. Considerando que é uma verdadeira beleza vê-los a trabalhar, prefiro que seja permitido o trabalho de crianças em condições infra-humanas e precárias e que, em nome dos direitos do homem e do cidadão, não haja o direito de ingerência nesses assuntos.

21) Aceito que os políticos possam ter uma duvidosa honestidade e, por vezes, sejam corruptos, perante as fortes pressões de que eles são alvos, desde que para a maioria dos cidadãos a regra seja a tolerância zero.

22) Aceito que os laboratórios farmacêuticos e os industriais do setor agro-alimentar vendam aos países subdesenvolvidos produtos fora do prazo ou com componentes cancerígenas, e que estejam interditas no ocidente.

23) Aceito que o resto do mundo não-ocidental possa pensar diferentemente de nós, sob a condição de não virem para cá exprimir as suas crenças, e ainda menos tentar explicar a nossa História com as suas noções filosóficas primitivas.

24) Aceito a idéia que não existe senão duas possibilidades na natureza, a saber: caçar ou ser caçado. E se somos dotados de uma consciência e de linguagem, não é com certeza para saber escapar a esta dualidade, mas sim para justificar porque é que agimos assim.

25) Aceito considerar o nosso passado como uma sucessão ininterrupta de conflitos, conspirações políticas e de vontade para obter hegemonias, mas eu sei que hoje tudo isso já não existe porque estamos no apogeu da evolução humana, e que as únicas regras que regem o nosso mundo são à busca da felicidade e da liberdade de todos os povos, tal como ouvimos dizer constantemente nos discursos políticos.

26) Aceito sem discutir e considero como verdades todas as teorias propostas para explicar o mistério das nossas origens. Além disso, aceito que a natureza tenha demorado milhões de anos para criar um ser humano, para o qual o único passatempo é a destruição da sua própria espécie daqui a alguns instantes.

27) Aceito que a procura do lucro seja o fim último da Humanidade, e que a acumulação das riquezas seja realização efetiva da vida humana.


28) Aceito a destruição das florestas, a quase destruição da fauna marítima dos rios e oceanos. Aceito o aumento da poluição industrial e a dispersão de venenos químicos e de elementos radioativos na natureza. Aceito a utilização de todas as espécies de aditivos químicos na minha alimentação, porque estou convencido que, se aí são introduzidos, é porque são úteis e desprovidos de risco.


29) Aceito a guerra econômica que se alastra pelo planeta, mesmo se sinto que ela nos conduz para uma catástrofe sem precedentes.


30) Aceito esta situação e admito que não posso fazer absolutamente nada para a mudar ou melhorar.

31) Aceito ser tratado como besta, pois feitas às contas, penso que não valho mais que isso.

32) Aceito não levantar qualquer questão, de fechar os olhos a tudo isso e em não me opor a nada, uma vez que estou demasiado ocupado com a minha vida e já tenho preocupações que me cheguem. Aceito mesmo defender até à morte este contrato se me pedirem.

33) Aceito, pois, consciente e voluntariamente, este meu triste destino contratual que me colocaram à frente dos olhos e que vou assinar, apesar de tal me impedir de ver a realidade das coisas.

Nota final:
Caso estejas contra e recusas subscrever este contrato, podes em alternativa começar por utilizar os recursos que a amizade e o amor, a fraternidade e a responsabilidade partilhada, te oferecem e passar a refletir, a conceber, a ousar e a tecer uma teia não-venenosa, mas saudável, para manter vivo o nosso planeta e garantir à Humanidade o direito a viver com justiça e liberdade.


Todo atraso é demais.

Os grandes só são grandes quando estamos de joelhos! Levantemos!

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Sequestrei Belchior!

Foi na semana passada que ganhei uma palheta do Berry e uma lista de insultos em ordem alfabética. Depois tomei vodca e ganhei um soco na boca. Cuspi sangue, mas, pelo menos cortei a mão do oponente com os ferros em meus dentes.

Depois da ressaca, não sabia mais o que fazer, ou, pensar...

Fiquei com Lorca, vinho e cigarro. Pensei na Luta de Classes e desisti daquilo que os místicos chamam de "revolução". Hoje creio mais no ódio do que no amor. "O amor é efêmero, o ódio é eterno".

Voltei para a querida vodca e pensei num plano... Sequestraria uma ex-famoso que vive somente de coletâneas pífias e recebe mensalmente uma boladinha dos direitos autorais... Alguém que se rendeu há muito... Fagner... Não, ele é o queridinho do Tasso! Ora, Belchior!

Pego uma grana e depois de um tempo, ele ainda sai lucrando com a venda de cds!!!

"É isso!"

Sequestrei Belchior!
Quem quiser autógrafo, ligue em horário comercial...

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Aspas

"Carregar impressões atemporais em depósitos esquisitos, em pedaços esquizofrênicos da memória mastigada pelas frequências e taxas cardíacas que reverberam no corpo que tateia o espaço neutro...

Um caminho invisível, ininteligível, uma força puramente contrária. A vida escapa por entre os dedos de forma amarga. E dentro da noite vejo as ondas de transmissão das televisores e escorrego
nas calçadas cantarolando um hino de horror e caos. Uma quase morte dança do outro lado da rua.
Sincroniza os gritos oriundos dos campos em chamas e com as cinzas do trigo, alimenta o nada.

-Engula e deixe que ele o degluta! deixe o nada embeber suas carnes como um inseto entre a salaiva de um aracnídeo predadror!

E na calçada havia um bêbado que dizia: " não há razão para fazer planos, pois, eles podem ter generosos resultados de intranquilidade."

Desalento."

Porfírio C. De S.

sábado, 8 de agosto de 2009

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

15 segundos mais velho

Roteiro de um sonho apagado

Cena 1

Alguém vaga na madrugada, com um nome na cabeça boca e garganta.

Cena 2
[ na casa da dona do nome ]

O mesmo alguém romanescamente joga pedras na janela às 2:00 da manhã reticenciando solidão enquanto latem os cachorros, e, o bêbado balbucia o nome daquela mulher que não abria a porta, não atendia aos telefonemas e parecia ter medo do escuro, pois, dormia com a luz acesa.

Cena 3

Os cachorros param de latir e uivam.
A noite já é toda pesadelo.

Cena 4
[ o banho ]

Antes do banho o personagem retira da carteira 1,5 g de cocaína e a prepara. Toma banho e cheira todas a fileiras. Em seguida a taquicardia o leva ao chão.

Cena 5

Enquanto o personagem treme, o chuveiro é posto em foco e acionado. A água vai de encontro com a lente e o rolo termina.

Contido pelo conteúdo


"A fibra não morreu, mas, vivo é que não estou."
Humberto Teixeira


A noite é um territótio inóspito e populoso. Por vezes, esta pantera de um olhosó, encanta estrelas e decompõe os sentimentos humanos só para um sambista fazer mais um samba, ou, um poeta ralo gritar o nome da amada, da amante, ou, coisas piores.

Uma vez um pensonagem que colava cartazes nos postes foi seguido por um fascista.
Os cartazes diziam; "você não é seu salário", "você não é seu celular" e "você não é seu carro".

Um parafraseado bobo, mas, para o personagem em questão, fazia sentido, pois, ela deixava a abstinência de lado.

Depois ele foi brincar de ciranda com um canudo.

Depois ele teve uma overdose.

Depois ele morreu.

Por quais motivos a vida é tão longa?!
Por quais motivos as pessoas são tão idiotas?!

Preciso de Burroughs e sexo e drogas e grind core.

A noite passou apertada entre as superfícies lisas e quentes... Para depoisencontrar a mucosa e aliviar a sanidade.

Prefiro ver David Lynch.
E a palavra astuta atravessa a noite de carona com a insônia... Pernas dormentes. Língua dormente e dor não mente. Os olhos da mosca passeiam pelo livro aberto de Camus... e já sou a mais pura indefinição nesses dias sem noite... às vezes escondo-me no banheiro, ou na penumbra dos postes, ou, das esquinas.

POEMA

Não apague o meu poema
tal como o vento
apagou meu cigarro.
Não apague o poema
como meu amor foi
sufocado
e se algum alguém
tiver de morrer,
que seja você.
Morra lindamente.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Movimento dos barcos

JARDS MACALÉ E CAPINAM

Estou Cansado E Você Também
Vou Sair Sem Abrir A Porta
E Não Voltar Nunca Mais
Desculpe A Paz Que Lhe Roubei
E O Futuro Esperado Que Nunca Lhe Dei
É Impossível Levar Um Barco Sem Temporais
E Suportar A Vida Como Um Momento Além Do Cais
Que Passa Ao Largo Do Nosso Corpo
Não Quero Ficar Dando Adeus
As Coisas Passando
Eu Quero É Passar Com Elas
E Não Deixar Nada Mais Do Que Cinzas De Um Cigarro
E A Marca De Um Abraço No Seu Corpo
Não, Não Sou Eu Quem Vai Ficar No Porto Chorando
Lamentando O Eterno Movimento Dos Barcos.