sexta-feira, 30 de abril de 2010

Naquela foto de amanhã




Brilho nos olhos.
Chuva caída,
viva e uivante.
Na foto de amanhã,
mais chuva e,
entre as cobertas, nós.



quinta-feira, 29 de abril de 2010

Ouvir Velvet Underground é...

É pensar em ocê,
de mãos no bolso,
com olhos voltados aos meus
e
com um sorriso
de um sinal
ao outro.

Com mãos enlaçadas,
numa calçada defronte ao bar,
ou,
no
verde-lodo
da tinta fresca
no banco da praça...

Estes teus olhos
enfarolando meus barcos...

Estes domingos tão nossos...
estas tardes...
....
Estes
todos-totais!

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Passado e pisado

Algumas vezes sinto-me doente.
Infeliz.

Não venha segurar
o sol por mais de 12 horas.

Não faça a chuva estancar
em minhas veias tão cavas.

Algumas vezes preciso ficar
com o silêncio
acarinhando meus ouvidos.
Algumas vezes
é um tipo de encantamento
misantrópico.

Algumas vezes,
por minutos...
outras vezes,
são meses que observam o caminhar
ausente de tudo/todos.

Nesses casos,
existem garrafas
com mapas e cartas
respectivas...

O vinho sabe qual é a latitude,
a vodca, a longitude.
O cigarro é minha lanterna.



Abril / 2009 - Exatos 365 dias.


Nota:

Estranho é o tempo que engana as pessoas... 365 dias, com extrema exatidão... Ainda bem que o tempo passa, ainda bem que já sabemos fazer nossos barcos, ilhas e mares - sem tubarões!
... Ainda bem que já somos nós!

R.C.

Primeira Segunda

Velvet
Underground
café e cigarros,
depois,
os livros que você
emprestou-me.

Não é mais um silêncio
secreto
que cala quando a voz,
pulsa dentro da garganta,
ou,
quando pula
dentro do peito
uma cigarra gritando
e dançando
dentro
de uma
câmara
de eco.

...

Eu já seguro sua mão.

...

Mil barcos!

...

Não é mais o silêncio
que saltita manco,
não!

São os passos
desse relógio
sem ponteiros,
dessa peça
ainda em polimento que somos nós,
sim,
por dentro,
passando em si, correndo ao outro...

Um
segurar de mãos é
mais que
um multiverso inteiro!

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Dístico para ela saber que o Mar não é ilusório

Se ocê deixar seu medo no porto,
afogo o meu antes do embarque.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Um pomar de 36 chaves

Sim,

"Os brutos também amam"...
...
E de forma violenta...
tal e qual
o desabrochar de uma flor!

Ou ainda como o movimentar
de sapatilhas aladas!

Ou como a grande implosão
que trazemos dentro do peito...

Os brutos leem poemas e
fazem café forte e
amargo
para acompanhar
seus cigarros.

Os brutos morrem
de medo de envelhecer
sozinhos,
por isso mesmo,
os brutos,
vão para o campo
arar estrelas
em suas bicicletas
de cestos e garupas...

terça-feira, 20 de abril de 2010

Café para dois

Uma sopa de silêncio e chuva.
Não um silêncio manco,
ausente,
mudo... não...
este não,
"nanão",
não mesmo...

Um silêncio
harmonioso,
enlaçado
entre os
braços
e
outros clichês
de noites chuvosas...

Ah,
este pulso
taqui
qui qui qui qui qui
cárdico
que levo dentro do bolso,
que sinto dentro
do livro,
do teu nome,
da falta do teu nome,
da curva dos teus cabelos
curtos
onde cabe uma
rede e um balanço...

Este tudo que ainda não pulsei,
bate à porta e não pede licença...

Entra e diz;
Café para dois.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

"Olho meu rosto no espelho e depois vou dormir..."




Pensei em regular a bicicleta ao sonho
e sumir, sumir, sumir, sumir e sumir...

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Chuva...

Caindo... caindo...
- virás com a chuva?!

Um café, Um café de verdade...

Eu,
com todas minhas manias,
desgostos,
fúrias e louvores silenciosos,
seguraria suas mãos.

Eu,
de medidas estranhas,
de sangue amargo,
de cabeça baixa,
de chuva no pensamento,
brincaria com seus cabelos
e pensaria num vento forte,
talvez,
sim,
dentro de um talvez
você fosse apanhada pelo sono.

Eu,
tão verborrágico no silêncio,
tão desfeito de métricas,
tão desprovido de metas,
tão relaxado,
tão ex-sonhador...
paro e penso
nestes olhos que sei que são seus...

Eu,
sabendo que um raio não sabe nadar,
sabendo que um dia o Ferroviário será campeão,
sabendo que as festas sempre serão enfadonhas,
que os músculos da tua perna são rijos, sabendo
dos cigarros adornando com fumaça nosso quando,
sabendo que Buñuel é o melhor do mundo,
que a taça de vinho é nossa,
que os espelhos quebrados não servem como antes,
que a minha lista de desejos é imensa,
que seu balançador será posto no local adequado,
que sua presença é assustadoramente apreciada,
que eu fico trêmulo algumas vezes,
que eu não sei, que eu não sei, que eu não sei...

Mas sei que sinto
algo na garganta ainda sem nome.

Aspas e aspas para o dia de ontem.

" Ah, como me dói
o dedo grande do pé direito!
E o coração, o coração, inefável unha
crescida na carne!"

Marin Sorescu

terça-feira, 13 de abril de 2010

Um sopro e um encanto

Um saxofone ocupava o meu sonho
quando ela abraçava o travesseiro
e a lembrança dum banco verde.

Eu quero voar e não temer a altura.
Quero não estar à deriva.

Que os ventos venham brandos.
Que em seu leito as dores cessem.

Que o café não amargue nossas bocas.

Um saxofone soprado por alguém sem rosto.
Uma tinta verde.

Um encanto.

Até deslembrei da cebola,
da faca e
do corte em meu polegar esquerdo...

Um encanto.