sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

23:32

Bem de perto
bem como em
quanto
de quanto em quando
sem saber do sol
ou do suor
sem ao menos se preocupar com a terra
ou com o arado
pela distância entre os polos ou entre os atos
ferir o pé
ganhar um calo
requentar
o olho que se aproxima
ao espelho
ao vítreo
líquido distante que verte
em sal
pela fala que esfíngica
desvenda-se num
enigma-de-café-pequeno
ou perde-se na fala enlatada
ao rumo do ato, perde-se ao fazer,
e também no agir
no longo recato da clausura
à sombra
distante do arado
da terra
do sal e do suor
pálido e da paliçada
sabe quem as finca em um sítio
ou ainda no lócus do invisível e que
contradiz-se aqui o inefável
quando escrito
como na ocasião
asseverou o vento
numa constelação
de chaves, ou imagens arrogantes
enquanto o paradeiro
das moedas era descabida
palpita ao conviva
o suco das horas de ghaphien
pois assim é que é mais sério
o que independe da raiz
do comum
do açúcar do que fala
bem de perto com tantos
unguentos e tantos quantos e pois
e após disso e com isso
adequado ao recolhimento
sabe-se que o que não se tem
não se perde
e que o que se irmana pela diferença
é o que na presença do sol
não se queima pela teimosia
o estio é fértil para quem trama entre raízes
sem por elas souber não ser atingindo
 é dentro deste quando que mora
o que será
foi e
passou e nem nome logrou
- ou pela prática do vir-a-ser.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Avô e Pai.
Do último ao primeiro,
ou ainda do mais.
Ou das cordas
que se sabe pela
necessidade de tocar
como um vidro com água
no terreno de 12 cordas.
Improviso e palavra
certeia-se em definitivo,
ao meu Pai.
Ao meu Pai de novo.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Ao tempo


Mais que esquálido ou translúcido
um tempo/luz com mais
fulgor e certo de si
ruma e parte ao próximo
tempo
mais que esgueiro
e circundante
à deriva
ao devir
à desir
tem
po

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Duas canetas mortas

Acorde de um sonho e veja suas gengivas derretendo.
ouça o som que a lua faz quando se choca com a terra,
ou ainda o último suspiro de uma caneta sem tinta.

Para quem escreve a caneta é seu objeto de transtorno
retorno e desejo e busca e caminho e encontro.
Para quem desenha sua caneta de refil recarregável
é parte do corpo que,
ao toque da caneta ao papel, de seu bico e sua tinta,
tem sua extensão corpórea garantida
como um deslize, um respiro e um alívio.

a música cessa, pois, a corda arrebenta.
a regência para se a batuta quebra... 
Perder o tempo é coisa boba, 1, 2, 3,
vai de novo
e o tom menor se adianta agalopado,
troteando em perdas colossais.

o que se perde em meio ao processo
de composição,
quando a corda quebra não é o dinheiro
para comprar uma reserva...
o que se perde não é o tempo da afinação do restante das outras.
o que se escorrega enquanto fracasso
ou proto-fracasso é a sequencialidade das ideias que se espatifam ao chão
arremessados do alto da escala tonal.
é como quebrar uma tecla no meio de um allegro vivace!
É de uma tamanha tristeza.
é como um fagote engasgado, ou ainda um oboé em chamas...

derrete o som como a tinta seca
sibilante, uivando, se urdindo ao avesso,
se desfazendo como a composição que abortada pede socorro
ao relógio que marca tempo,
mas o temperamento deste metrônomo
não vai ao encontro do seu.

não desenhar é como um músico ter sua partitura rasgada.
o palco arrancado dos pés de um ator, contudo, este tem a rua e pode
executar o seu texto, a polícia tira-lhe o texto,
eis que ele improvisa, mas, mastiga e engole a própria voz
e tomba e quebra o pescoço.

é como perder uma caneta.
A caneta em si é próprio motivo para o poeta,
nem é o poetar em si,
é o fato da caneta tornar possível o delatar
das palavras desencadeadas uma após a outra,
ora,
o que tu esperas de uma caneta?!
Uma assinatura num cheque?!
Não me importa o que achas, o que me interessa é que perdi duas canetas.
e estou me lamentando como um clarinete
desafinado desafiando os ouvidos
mais calados.
escorrega devagar e adiante.

essas canetas não são para as escrituras
toscas que me encarregaram desde o nascedouro
as vinhas do tempo e suas iras com veios
amadeirados que sustentam o mundo
por cima da ampulheta que filtra dois universos.

essas canetas se perderam por um deslize meu.
por uma idiotice por uma falta de atenção.
...
fui interrompido nesta hora; batem à porta do quarto onde vejo minas canetas.
...
e tão somente por isso não me desculpo.
foi um erro de um tom inadmissível.

Pois na verdade o que se sepulta é uma série de trabalhos
que viriam a ser pelo bico dessas duas canetas. Infinitos.
o que cometi – este canetinocídio –, é impensável!
Tantas tintas ainda guardariam e quantos mais papeis...
quantas ideias, quantas ideias...

o que mais me entristece é que tinha mais Amor
naquelas canetas que qualquer outra que possa existir.

Se por acaso ou descaso essa canetas
quisessem meu sangue como vinho não poderia nada fazer.
perdi o controle, perdi o controle...
como enfrentar uma fila de 450 pessoas
e voltar ao final só por diversão.
espero assim talvez satisfazer os anseio destas canetas
que tanto já trucidaram o tédio
e como um idiota eu as matei.
como se não bastasse ser feio,
tivesse agora dar uma de burro.

É como ouvir Dylan apenas
com um fone
de ouvido – não fode cara!

O garotinho está seriamente perdido e é
atropelado miseravelmente pelo perigo que o acompanha
em suas sombras e tem um copo cheio de café e medo...
Suas solas falam de umas canetas mortas
ele não entende e pede explicação
e tem visões assombradas
durante a noite e dorme
dentro de um bueiro infinito
sua salvação é igual ao das canetas
vê primitivas inscrições nas pernas da rua
e fica de joelhos entregue à noite.

o infeliz dorme e durante o sono
lunaticamente se assusta ao espelho,
pois suas gengivas estão derretendo
e pela janela a lua se aproxima
e seus dentes escorregam vagarosamente
sente seus pés descolarem do chão
e um por um seus dentes são lançados ao espaço
que o vazio ocupa entre saliva e espelho
que agora o sangue se empapa em motes doloridos.
ao chão, levita vagarosamente a tinta nanquim
das duas canetas que se entreolham com sorrisos
e vingança. Dão seus últimos suspiros.
Finalmente a lua choqua-se com o planeta.
Por fim, nanquim.   

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

ao gosto



é fácil;
é de amor e é grande
e forte
um abraço ou ainda um
querer amplificado que
beethoven não sentiu
menos ainda debussy...
o que fazer se o amor tem cor de rock
e nós somos os solistas dessa peça
que compomos em campos
abertos dentro do peito e debaixo das árvores
ou por entre o lodo que verdeja enquanto
te versejo folha, ou ainda, feito botão,
ou mais, feito migo, que em ti,
repousa pois enfim
sabe da lua e do cheiro de sê-lo.
de amor e de muito.
é fácil.
como Rach miando e
rondando e fazendo charme
para ganhar afagos e carinhos
como leves toques de pincel em água.
é fácil.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Da Casa Nossa

não são apenas
duas chaves.
nem poucos cômodos,
não.
são duas janelas
- abertas -
quatro mãos,
dois corpos,
onde a mudança
acompanha com o
suor
e sorrisos
e malhas e manhas
o querer que é nosso
que uiva e grita viva
num canto pequeno
e cheio
de luz, carinho
e o que Anima
- não a alma,
mas a vida;
o nosso Amor.

não são apenas duas chaves
são duas janelas abertas
onde se olha o fundo dos
olhos
não no espelho
mas no
olho do outro.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Aos Beijos

não há remorso
pelas cores.
elas só me dão cegueira.
chromofobia.
gosto quando
pela pele
o suor diz suas palavras,
e numa tempestade,
no meio ao breu,
grita a verve mais
humana,
como um raio que parte.
na transparência
é que mora o segredo
mas só no breu
o sigilo se fecha,
como carta selada.

não há remorso
pelas cores.

algumas até suporto.
gosto de duas,
visto que são miscíveis...

tintar o que há de branco em nuvem
é tarefa hercúlea para um par de mãos.
a chuva vem e aplaca meu desejo;
tinge o céu de cinza e isso me transporta.
transborda e transforma...

eu gosto do cinza.
e do preto.
o azul tem algo, mas,
não é de completo gosto,
diria que a cor azul é um mini-desgosto.

há rumores
pelas cores.

exijo das palavras seu suor.
o seu e o dela,
admito o dúbio,
não pelo duplo de cada
palavra, mas pelo tríptico
(não triplo, pois, no tríptico as três
imagens formam uma maior)
de cada interpretação,
tão novo
quanto
"uma porta que serve para abrir e fechar",
ou tão velho
e sentido quanto o sol
que em dupla,
luz e reluz,
nem se importando com
a geometria do universo.

não me reporto ao único,
aporto no múltiplo
e despenco em riso
junto ao livro
que deglute e enerva,
compondo assim,
marcas na alcova
como no solo em pegadas
que
dão rumo aos dias
e com luz
quase branda do sol
entre as nuvens
que me iluminam

"
E vós, amáveis devassos, que desde a juventude, não tendes outros
freios que vossos desejos e outras leis que vossos caprichos (...).
Convencei-vos (...) que, só estendendo a esfera de seus gostos e
de suas fantasias, só sacrificando tudo à volúpia, o infeliz indivíduo
denominado homem e jogado a contragosto neste triste universo
conseguirá semear algumas rosas sobre os espinhos da vida.
"
Página 11;

Marquês de Sade, A filosofia na alcova, ou Os preceptores imorais;
tradução, posfácio e notas Contador Borges. - São Paulo: Iluminuras, 2008.

Volúpia enquanto deleite,
deleite enquanto prazer;
seja moral ou físico...

Atear fogo em igrejas
é um belo deleite,
pois, assim, ela poderá iluminar
meus olhos cansados de cores
numa noite escura e fria,
e num tom amareladamente
pirofágico,
a tomarei dentro da noite,
das mãos da prórpia noite,
e a beijarei como quem
precisa do teu beijo para
dar continuidade ao legado
e, com um encaixe perfeito
um mise en abyme...
como diz a canção:
"fogo e paixão".