não há remorso
pelas cores.
elas só me dão cegueira.
chromofobia.
gosto quando
pela pele
o suor diz suas palavras,
e numa tempestade,
no meio ao breu,
grita a verve mais
humana,
como um raio que parte.
na transparência
é que mora o segredo
mas só no breu
o sigilo se fecha,
como carta selada.
não há remorso
pelas cores.
algumas até suporto.
gosto de duas,
visto que são miscíveis...
tintar o que há de branco em nuvem
é tarefa hercúlea para um par de mãos.
a chuva vem e aplaca meu desejo;
tinge o céu de cinza e isso me transporta.
transborda e transforma...
eu gosto do cinza.
e do preto.
o azul tem algo, mas,
não é de completo gosto,
diria que a cor azul é um mini-desgosto.
há rumores
pelas cores.
exijo das palavras seu suor.
o seu e o dela,
admito o dúbio,
não pelo duplo de cada
palavra, mas pelo tríptico
(não triplo, pois, no tríptico as três
imagens formam uma maior)
de cada interpretação,
tão novo
quanto
"uma porta que serve para abrir e fechar",
ou tão velho
e sentido quanto o sol
que em dupla,
luz e reluz,
nem se importando com
a geometria do universo.
não me reporto ao único,
aporto no múltiplo
e despenco em riso
junto ao livro
que deglute e enerva,
compondo assim,
marcas na alcova
como no solo em pegadas
que
dão rumo aos dias
e com luz
quase branda do sol
entre as nuvens
que me iluminam
"
E vós, amáveis devassos, que desde a juventude, não tendes outros
freios que vossos desejos e outras leis que vossos caprichos (...).
Convencei-vos (...) que, só estendendo a esfera de seus gostos e
de suas fantasias, só sacrificando tudo à volúpia, o infeliz indivíduo
denominado homem e jogado a contragosto neste triste universo
conseguirá semear algumas rosas sobre os espinhos da vida.
"
Página 11;
Marquês de Sade, A filosofia na alcova, ou Os preceptores imorais;
tradução, posfácio e notas Contador Borges. - São Paulo: Iluminuras, 2008.
Volúpia enquanto deleite,
deleite enquanto prazer;
seja moral ou físico...
Atear fogo em igrejas
é um belo deleite,
pois, assim, ela poderá iluminar
meus olhos cansados de cores
numa noite escura e fria,
e num tom amareladamente
pirofágico,
a tomarei dentro da noite,
das mãos da prórpia noite,
e a beijarei como quem
precisa do teu beijo para
dar continuidade ao legado
e, com um encaixe perfeito
um mise en abyme...
como diz a canção:
"fogo e paixão".
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