quinta-feira, 15 de abril de 2010

Um café, Um café de verdade...

Eu,
com todas minhas manias,
desgostos,
fúrias e louvores silenciosos,
seguraria suas mãos.

Eu,
de medidas estranhas,
de sangue amargo,
de cabeça baixa,
de chuva no pensamento,
brincaria com seus cabelos
e pensaria num vento forte,
talvez,
sim,
dentro de um talvez
você fosse apanhada pelo sono.

Eu,
tão verborrágico no silêncio,
tão desfeito de métricas,
tão desprovido de metas,
tão relaxado,
tão ex-sonhador...
paro e penso
nestes olhos que sei que são seus...

Eu,
sabendo que um raio não sabe nadar,
sabendo que um dia o Ferroviário será campeão,
sabendo que as festas sempre serão enfadonhas,
que os músculos da tua perna são rijos, sabendo
dos cigarros adornando com fumaça nosso quando,
sabendo que Buñuel é o melhor do mundo,
que a taça de vinho é nossa,
que os espelhos quebrados não servem como antes,
que a minha lista de desejos é imensa,
que seu balançador será posto no local adequado,
que sua presença é assustadoramente apreciada,
que eu fico trêmulo algumas vezes,
que eu não sei, que eu não sei, que eu não sei...

Mas sei que sinto
algo na garganta ainda sem nome.

3 comentários:

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  2. Uma porta fechada não é suficiente para que o homem esconda o seu amor. Ele também necessita de uma porta aberta para poder partir e se perder na multidão quando esse amor explodir como o barril de pólvora no arsenal alcançado pelo raio. Um telhado não basta para que o homem se proteja do calor e da tempestade. Para fugir ao relâmpago ele precisa de um corpo estendido na cama e ao alcance de sua mão ainda temerosa de avançar no escuro quando a chuva cai no silêncio do mundo aberto como uma fruta entre dois estrondos. Na noite que declina, no dia que nasce, o homem precisa de tudo: do amor e do raio.
    Ledo Ivo

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