quarta-feira, 30 de setembro de 2009

LORCA! LORCA! LORCA!

Era madrugada quando o sonâmbulo atacou. Primeiro foi a perna tateando a quina de qualquer coisa, depois, os dedos queriam acender luz... e assim o livro foi mordido. Deglutindo poemas, acordou bestificado com as sobras que caíam do canto da boca... literalmente ele babou.
Agora, com todos os pormenores deslembrados, vamos ao poema!!!

García Lorca, todo sofrimento será vingado!
Sua morte será vingada!
Os punhais de prata cortarão as gargantas!!!
Não há perdão para burguês algum!!!

A REVOLTA É O QUE HÁ DE MELHOR EM NÓS!


PAISAGEM DA MULTIDÃO QUE VOMITA
Anoitecer de Coney Island

A mulher gorda vinha na frente
arrancando as raízes e molhando o pergaminho dos tambores;
a mulher gorda
que vira pelo avesso os polvos agonizantes.
A mulher gorda, inimiga da lua,
corria pelas ruas e pisos desabitado
se deixava pelos cantos pequenas caveiras de pomba
e levantava as fúrias dos banquetes dos últimos séculos
e chamava o demônio do pão pelas colinas do céu arrasado
e filtrava uma ânsia de luz nas circulações subterrâneas.
São os cemitérios, eu sei, são os cemitérios
e a dor das cozinhas enterradas sob a areia,
são os mortos, os faisões e as maçãs de outra hora
os que nos pressionam a garganta.
Chegavam os rumores da selva do vômito
com as mulheres vazias, com meninos de cera quente
,com árvores fermentadas e camareiros incansáveis
que servem pratos salgados sob as harpas da saliva.
Sem remédio, meu filho, vomita! Não há remédio.
Não é o vômito dos hussardos sobre as tetas da prostituta,
nem o vômito do gato que engoliu uma rã por descuido.
São os mortos que arranham com suas mãos de terra
as portas de pederneira onde apodrecem nublados e sobremesas.
A mulher gorda vinha na frente
com as pessoas dos barcos, das tabernas e dos jardins.
O vômito agitava delicadamente seus tambores
entre algumas meninas de sangue
que pediam proteção à lua.
Ai de mim! Ai de mim! Ai de mim!
Esta visão minha foi minha, mas já não é minha,
esta visão que treme despida pelo álcool
e despede barcos incríveis
pelas anêmonas dos cais.
Defendo-me com esta visão
que mana das ondas por onde a aurora não se atreve,
eu, poeta sem braços, perdido
entre a multidão que vomita,
sem cavalo efusivo que corte
os espessos musgos de minhas faces.
Porém a mulher gorda seguia na frente
,e as pessoas buscavam as farmácias
onde o amargo trópico se fixa.
Só quando içaram a bandeira e chegaram os primeiros cães
a cidade inteira se agrupou nas galerias do embarcadouro.

New York, 29 de dezembro de 1929.

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