sexta-feira, 29 de abril de 2011

Vários Estômagos

Como
e engulo a palavra...
regurgito
um poemeto
ainda salivado.
Quem o lê
também o come
lambendo
minha
saliva
ainda fresca
na estrutura
da palavra.

terça-feira, 26 de abril de 2011

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Palavra em Negro e Vermelho



Raiva Contida

Se chuva é "preciptação",
o que é o tédio,
ou o assassinato de duas pessoas por dia
promovido pelo trânsito
só na cidade de São Paulo?

terça-feira, 19 de abril de 2011

Argos Mutante

_____Teus olhos
_____com cheiro
_____de fadiga
_____e suores
_____perdidos
_____dentro das horas
_____em veículos
Mil olhos amontoados em
forma de montanha prateada
teus olhos carregados de sono
horas de trabalho e agressões:
possessão e horror maquinal.
_____Teus olhos
_____lotados de fluxo
sanguíneo...
_____Os dias passam e
teus olhos fitam a tarde
atravessando o dia, rumando para
_____noite
_____e nada muda
além da tua economia que
a cada novo dia diminui
_____e míngua como a lua.
Meninos correm pelados da cintura
_____para cima,
enquanto teus olhos choram
por todas as bocas que
_____não podem
alçar voo, pois, a inanição
ocupa a existência
e sobreviver é artigo de luxo
neste mundo vasto e vosso
fétido e capcioso!
_____Mil olhos dentro dos
_____teus; espelhados
no poema mutante...
_____Pela rua o lixo
vocifera.
_____Mil milhões de olhos
em uma cabeça.
Sombras empalidecidas pela cidade
e os teus olhos espelhados
não respiram nada para além
_______________do rarefeito.
Teus olhos com cheiro
_____de solidão,
com largura
_____de frio,
e altura de concreto.
Mais um olho
aparece e vê o aço retorcido
______e chora
com o verde derramado...
outro olho
- este mais amargo -
vê sangue no asfalto e se fecha
em repúdio.
______Outro vê o coração pulsando
e o mesmo sangue
que se esvai, transmite vida.
Mais olhos
com cheiro de fadiga e sono.
_____Mil olhos se fecham
e outros dois mil se abrem
_____como Argos mutante.
Teus olhos ainda carregam
o peso da noite nas pálpebras.
_____Ao dia ficam as manchas
de tinta e caos.
Os olhos são teus
_____nossos
_____vossos.
Dois mil se fecham quando
mil se abrem...
O Vislumbre chegará,
mas, algum de nós
estará acordado?

Mote Desmotivado

Corre solto
como solista
mambembe
pega ônibus
come o que
come e,
a fome, de quando
em quando,
d-e-v-a-g-a-r-i-n-h-o
o consome...
Fica com frio na chuva
e com sede
durante o sol.
O poema sente
o doce na boca
e o amargo no corpo.
Ele ama, ri, conversa,
chora, gargalha,
triste e alegre
é até gente
- isto é um problema grave
o poeta é que para nada serve
- esta é uma [re]solução...

Signo de Hibridação Coisífica

Poema misto
de garfo e faca
com a boca aberta
faminta
da criança
pequena e perdida
na cidade de ferro e cal
de onde
os vermes
tomam forma de gente
em galerias e avenidas
sujas
onde padres
e freiras fumam crack.

Bêbados dormem
na Praça dos Leões
onde o
Poeta Mário Gomes
fuma ao mesmo
tempo dois cigarros.

O café esfria
e o tempo derrete
esquálido e presente
no espaço
como
a inanição no menino
que por
de-
baixo
da ponte
anuncia as horas
da esquina quando
colado
na ponta da rua
de esquina
agendando o meretrício.

Se esta cena fosse
em outra latitude
outra longitude
o poema seria universal.
Mas é medíocre e pastoso
como
todas as letras que não
rompem com sua condição
estática.

Da Cor Indizível

Não há matiz mais branda
viva e suave que o inefável
encontro das primárias
abraçadas em uma cor
tão sua quanto o arrebol
que mesmo com a chuva o sinto...
não há cor mais intensa qual a
que se concentra na ponta de seu pincel.